Desassossegos rotineiros | #2
Top lugares que te obrigam a gastar dinheiro
> Em terceiro lugar, shopping.
Os objetos reluzem sob luzes vibrantes, elegantes e amareladas, em maior ou menor escala e com maior ou menor elegância. Parece que assopram gentilmente o seu primeiro nome e imploram para serem adquiridos. De repente você se vê necessitado, incompleto e lutando contra o ímpeto de passar o cartão, em quantas vezes necessário. “Nossa, nem me lembrava que precisava de um chaveiro novo” ou “Hum, só um Bacio di Latte não me fará mais pobre” ou “YOLO, eu mereço, trabalho igual condenada para que, afinal” ou “Sabe que quando está com um desconto assim é obrigatório aproveitar, risos” ou “Caraca, eu estava procurando um macacão jeans exatamente assim!” ou ou ou.
A posição pode ser alterada se o estabelecimento estiver localizado próximo ao local de trabalho e isso exija o ritual de uma vez por mês, pelo menos, almoçar e olhar vitrines, sabendo que voltará para o escritório com sacolas e a sensação de adrenalina que só uma leva de comprinhas pode proporcionar.
Mas o reservo em terceiro porque compras no shopping são mais sérias, mais solenes. Por mais displicência que se tenha, exige certo respeito por oferecer objetos mais caros.
>Em segundo lugar, mercado.
Numa análise profunda e numa decisão não unanime dos meus neurônios, supermercados proporcionam sensações fervorosas e impulsos avassaladores. Não bastasse o que o próprio local oferece de possibilidade, pode haver o agravante da fome. Por isso, não foi possível acordar resposta. O ambiente oscila entre as posições 2 e 1 por conta do timing. Se, por acaso do destino ou do inconsciente, calhar de estar faminto e no mercado com o vale-alimentação cheio ao mesmo tempo... Estrago, sobe para o altar do pódio.
Esses santuários precisam ser respeitados e honrados, são periculosos e sorrateiros. Proporcionam prazer prolongado na experiência de compra e ferem um pouco menos quando, gentilmente, aceitam o seu pagamento em vale, astuciosamente te induzindo a retornar sem culpa, pois o dinheiro não saiu da sua conta-corrente, logo, foi gratuito.
Pensando em termos normais cotidianos, o mercado fica em segundo por conter variáveis que não o mantém como vencedor em todas as circunstâncias, diferente dela, a soberana, a que jamais perderá sua majestade.
>Em primeiríssimo lugar, ela, a dona das gôndolas mais libidinosas, a Iara dos estabelecimentos, a medusa das esquinas, o coelho dos comércios: a farmácia.
Começa com a busca por remédio. Pelo Neosoro. Por um desodorante. Pastilhas de garganta sabor laranja. Alguma necessidade te leva, geralmente ruim. Às vezes, uma singela pesada na balança. Tanto faz. A cesta para em suas mãos e, automaticamente, seu passeio calmo e atento é traçado. As pupilas se ajeitam como as de um puma, o pescoço estica para aumentar o campo de visão e as mãos seguram firme a casa que abrigará sua alegria.
Produtos de pele, rosto, mãos, pernas, pés. Shampoos variados, condicionadores cheirosos. Desodorantes distintos, uva, maçã, salada mista. Sabonetes com combinações poderosas de especiarias e embalagens perfeitas. Até a parede de remédios, com cartelas de cores, tons e tamanhos vários, pisca em neon. Protetores solar em bastão, com cor, invisível, líquido, em pó. Manteigas de cacau clássicas, lip balm para os finos, elásticos de cabelo, grampos – sim, eles – tinturas, esfoliantes, esmaltes nomeados com amor e astúcia, como roxo Ai, Bati o Joelho na Quina da Cama de Madeira, nude João Ficou de Buscar Pão e Não Foi, vermelho Segundo Dia da Menstruação com Cólicas), ad eternum.
Ah, até o chiclete da Drogasil é mais gostoso. A água da Drogaria São Paulo. A pistola de furar a orelha por 10 reais com o farmacêutico da Sanches. Essa é a magia. Não importa se é a PanVel de Moema, em São Paulo, ou a PagueMenos. Sempre terá algo belo para se admirar e conquistar.